As coisas vulgares que há na vida não deixam saudade
Só as lembranças que doem ou fazem sorrir
Há gente que fica na história da história da gente
e outras de quem nem o nome lembramos ouvir
São emoções que dão vida à saudade que trago
Aquelas que tive contigo e acabei por perder
Há dias que marcam a alma e a vida da gente
e aquele em que tu me deixaste não posso esquecer
A chuva molhava-me o rosto gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha já eu percorrera
Ai... meu choro de moça perdida gritava à cidade
que o fogo do amor sob a chuva há instantes morrera
A chuva ouviu e calou meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro trazendo a saudade
(Mariza - Chuva compositor Jorge Fernando) **
Mãe e avós , cada uma, diferente entre si, mas todas fortalezas de sentimentos e atitudes.
VERA
mãe – casou com seu amado.
Sempre alegre, nunca uma palavra grosseira, ensinou ao meu pai que não se dá estilingue para criança nem para alvo de parede.
Adorava plantas, cães, gatos.
Tinha também algumas galinhas, e quando precisava cozinhar uma, chamava minha tia, não tinha coragem.
Teve 4 filhos, sempre incentivando os filhos a estudarem, toda manhã por 2 /3 horas ficava ajudando no entendimento da lição, nas dicas dos trabalhos escolares.
Não gostava de criança na rua então chamava os amiguinhos, preparava o lanche e era um custo fazer as crianças voltarem para suas casas.
Podiam tudo, mexer na terra, com água, jogar bola. Todas as brincadeiras.
Era uma artesã de mão cheia, de pequenos materiais criava peças, algumas com a gente até hoje. Sempre curiosa e querendo aprender sempre mais.
Amou muito, recebeu muitas poesias do seu amado e presentinhos, um por mês.
Por amor e tristeza da perda do filho amado, uma dor angustiante, adoeceu.
Foram 4 anos e em nenhum momento um lamento, sempre feliz e nenhuma dor.
Num final de manhã, em casa, serenamente partiu.
O amado, meu pai, MARIO, esse morreu de tristeza, pelas perdas que teve e que não conseguiu suportar, foi demais para ele, muito sensível, um artista e ele que sempre foi um bom conversador sobre tudo se calou.
ANTONINA,
avó, que para nós é a babushka (avó em russo) , viúva de marinheiro imperial, foge com 2 filhos para Istambul – Turquia durante a revolução russa e deixa para trás pai, mãe e 6 irmãos.
Casa mais uma vez e tem mais 3 filhos. E a família decide vir para o Brasil.
Vida difícil, mais 1 filho.
Ganha a vida costurando. Marido sai de casa e a deixa sozinha com 6 filhos.
Muito religiosa, ortodoxa, voz linda, canta no coral e participa da vida da igreja.
Anos mais tarde recebe o marido de volta, vítima de AVC, totalmente paralisado, que é cuidado até a sua morte.
Moderna, lia a revista Seleções tomando chá e comendo pedacinhos de chocolate.
Em todos os anos que estivemos juntas apenas uma vez, por algo que falei, acho que foi no seu aniversário, vi seus olhos mareados, mas apenas por alguns segundos.
Ficou com a gente alguns anos, muita conversa, muito dengo, e serenamente partiu.
AUGUSTA,
avó, que para nós é a nona (avó em italiano), filha de italianos de Vittorio Veneto (Itália) que chegaram para uma nova vida no Brasil.
Casou com seu primeiro namorado, que morreu cedo, com 43 anos, vítima de apendicite.
E se viu sozinha com 8 filhos mas não se intimidou. Tinha uma chácara com verduras, frutas, galinhas, que vendia para sustentar a família.
Muito religiosa, ia à missa todos os domingos, e diariamente rezava o Angelus e antes de dormir o terço.
Muito simples no falar, no vestir. Nunca um gesto brusco.
Escolheu nossa casa e aqui ficou por alguns anos e serenamente recebeu a extrema unção e partiu rezando o pai nosso nos braços do meu pai.
HOJE - e de todos, sempre quando relembramos algumas histórias é motivo de boas recordações e risadas. Eles partiram mas ainda continuam em meu coração.
Como diz a canção Anjo Velho: só, enquanto eu respirar eu vou lembrar de vocês, só enquanto eu respirar...”
Chuva, Mariza - compositor Jorge Fernando
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